domingo, 22 de junho de 2008

Retrato da sociedade...

"O que seria necessário fazer?
Procurar um protector poderoso, arranjar um patrono?
E como a hera obscura que se agarra a um tronco
E faz dele um tutor, labendo-lhe a casca
Trepar manhosamente, em vez de subir pelo esforço?
Não, obrigado!
Dedicar, como fazem todos, versos aos negociantes?
Transformar-me num palhaço, na esperança ignóbil de ver
Nos lábios de um ministro
Nascer enfim um sorriso que não seja sinistro?
Não, obrigado!
Almoçar todos os dias, como um sapo?
Ter o ventre gasto de tanto rastejar?
Não, obrigado!
Ser aterrorizado por vagas bisbilhotices?
E dizer sempre: "Oxalá apareça nas páginas das revistas?"
Calcular, recear, empalidecer
Gostar mais de fazer uma visita do que um poema
Redigir petições, fazer-se apresentar!
Não, obrigado!
Não, obrigado!
Mas cantar, sonhar, rir
Caminhar, estar só
Ter olhos para ver bem, e uma voz vibrante
Pôs o chapéu à banda, quando assim agrada
Bater-se, por tudo e por nada
Ou fazer um verso
Trabalhar, sem preocupação de glória ou fortuna,
Para uma viagem que se quer,
À Lua..."

Rostand

in Nogueira, P. (1996) O Homem que foi para O Céu, Lisboa: Pregaminho
Estes versos retratam a sociedade de hoje... mas mais importante que isso, eu revejo-me nele... nestas linhas conseguimos retirar a hipócrisia do mundo onde vivemos, e de como ele quer sugar a energia daqueles que apenas são eles próprios e não obedecem aos "padrões" da sociedade...
Eu não me importo com o que os outros possam pensar de mim... Os meus amigos conhecem-me e gostam de mim pelo que sou... Não sou algo produzido e padronizado... por isso, sou por vezes posta de parte... Olham e não suportam a diferença... Preferem passar por cima dela, como nós passamos por cima das pedras da calçada enquanto caminhamos...
Não chega já de deixar de sermos quem somos para agradar a alguém??? Passam a vida a querer agradar ao chefe, ao companheiro, aos "amigos", ao porteiro do prédio... e cobrem-se de máscaras, umas atrás das outras, não deixam revelar quem realmente são, do que realmente gostam, apenas para serem aceites...
Será que vale a pena??? Eu não abdico de quem sou... mesmo que digam que "devia deixar de ser uma pita de 18 anos e passar a ser uma mulher de quase 30"
Eu gosto de ser como sou... gosto de mim, e demorei a descobrir e a deixar revelar quem realmente sou... Não volto a por uma capa, e esconder ou apagar a essência que me faz levantar todos os dias com um sorriso na face...
Posso não ganhar muito, posso não ter emprego... posso ser espezinhada pela sociedade. Mas quando adormeço, e me deixo envolver no mundo dos sonhos, vi que tudo o que fiz foi bom... Olho para trás e posso dizer que amo o que faço...
Quantos de vocês poderão dizer o mesmo?

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