quinta-feira, 11 de junho de 2009

O que custa ser feliz...

Todos temos pedras no caminho, e segundo Fernado Pessoa, deveríamos construir castelos... Bem sei que não seriam todos belos, mas seriam nossos... não é a morte que nos faz viver intensamente, não é o sonho que nos permite alcançar aquilo que pensávamos ser inatingível...
Dizem-nos para não guardarmos para amanhã o que podemos fazer hoje, António Variações, dizem-nos também que devemos ter uma noção clara da realidade de cada um, não julgarmos os outros pela nossa realidade, Platão, existem inúmeras pessoas que nos ensinam como viver, mas nós teimamos em sofrer e não viver apenas... usufruir das coisas boas da vida e ver o lado positivo da vida.
A minha avó dizia que não custa viver, custa é saber viver... só lhe dei razão uns anos mais tarde, quando me deparei com o fundo do poço e quis ver novamente a luz... quando achei que para se ser feliz não era preciso sofrer nem abdicar de quem eu era, da minha essência.
E hoje o que faço? Bem... por vezes fujo da felicidade, outras vezes abraço-a com toda a força que tenho...
Todos temos teorias de como viver e como viver bem, eu tenho as minhas claro... mas considero que não existe uma melhor que a outra, porque também não há pessoas melhores do que as outras. Há pessoas mais compatíveis com a nossa maneira de ser, há pessoas mais abertas às opiniões dos outros, há pessoas que acordam sempre bem dispostas... mas ninguém é melhor que ninguém apenas diferente. É nessa diferença que o mundo ganha a sua beleza, a multi diversidade seja ela a que nível for faz-nos um povo mais evoluído porque cada um trabalha numa área diferente... Cultiva um pouco do jardim a que podemos chamar sociedade...

Se bem que neste momento este jardim esteja em crise, eu penso que todos juntos podemos mudá-lo para melhor, trocando as armas pelo diálogo, mas aquele diálogo onde as partes se ouvem realmente, senão passamos ao monólogo que pouco efeito tem...
Trocando o "não tenho dinheiro para nada" por uns passeios grátis, existem tantos sítios para ver, exposições gratuitas e concertos a custo zero, basta procurar... Para nos divertirmos não precisamos de dinheiro, senão coitados dos nosso avós ou bisavós, que pouco tinham monetariamente, mas nunca deixaram de sorrir por causa disso... improvisavam, juntavam os amigos, faziam a festa em casa, lembro-me bem como era alegre a casa da minha bisavó e da minha avó... "Tristezas não pagam dívidas" era o lema da casa...

Por vezes, no meu entender, temos que ir retroceder para avançar em passo firme e nós, a minha geração que era apelidada de geração rasca, agora apelidada geração do ordenado dos 500 euros, tem que pensar que a vida não é só o que se tem no banco ou a parte material... mas principalmente os valores que nos foram transmitidos e que não podemos deixar que se percam no tempo, como uma gota da chuva em pleno oceano... O respeito pelo próximo e por nós próprios também tem que ser validado... Temos que mostrar o que valemos, não pelo que temos, mas por quem somos... e nós já ganhamos muitas batalhas, esta será apenas mais uma...

Viver feliz, acordar a sorrir e receber de braços abertos tudo o que a vida tem para nos dar, minimizar os problemas, optimizando a solução para eles, rentabilizando assim o tempo que achamos sempre que nos falta para fazermos aquilo que gostamos...

Não ficar velho, ficar sábio... Não ficar a remoer o passar mas antes ficar optimista perante o futuro e isso só se consegue mudando a nossa atitude no presente...

Mas isto sou eu, a dizer o que penso... felizmente estamos num estado livre... e a minha liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros...

Os meus peixinhos agora têm uma vivenda...

Pois é, os meus quatro meninos neste momento devem sentir-se como lord's, ou coisa do estilo, tendo em conta que não sei o sexo deles...

Primeiro tiveram direito a um T0, coitados, só eu para os colocar numa jarra, mas por vezes temos que improvisar, lembro-me que nessa altura, ainda eram apenas dois, nem sequer tinham espaço para nadar...

Depois foram mudados para um T2, uma bolinha de 12 litros... e aproveitei e arranjei mais dois para poderem jogar à sueca. Não me parecia bem serem só dois, ficavam sózinhos, pricipalmente porque as horas de sono não coincidiam...

Depois de muitas voltas e sem contador de voltas, porque os aquários não têm coisas dessas, resolvi comprar a vivenda, um aquário de 50 litros...

A principio estavam desconfiados... deviam estar a pensar no ditado "Quando a esmola é muita o pobre desconfia", mas agora andam felizes e contentes a aproveitar cada cm^3 daquela água... e eu também fico bem mais feliz...

Deixo-vos com o novo lar dos meus meninos o Sunlight, o Moonlight, o Ying e o Yang... a minha companhia viva cá em casa :) e olhem que fazem mais companhia do que se possa pensar...




domingo, 7 de junho de 2009

Chiclete - Taxi

Esta a andar de carro e a pensar na vida quando ouvi esta música de 1981, sim de 1981, tinha eu um ano quando foi lançada... Chiclete, dos Taxi.
E esta música que já foi escrita há tanto tempo consegue retratar tão bem a sociedade de hoje... é impressionante com eu tenho visto tantas alterações na sociedade em que vivo, mas eles conseguiram captar podridão que consumia lentamente a nossa sociedade e hoje nos arrasta a todos para um vórtice do qual parece que ninguém quer sair.
Antigamente, pelo que via nos meus primeiros anos de vida e pelo que me contam, os homens eram valorizados pelos seus valores, pela honra, pela palavra. Hoje somos avaliados por aquilo que temos, pela imagem que transparecemos, pelo que vestimos, pelo carro que conduzimos, pela casa em que vivemos e pelas polegadas do plasma que existe lá em casa.
Antigamente quando se falava em "Ele é de boas famílas" falava-se em valores, hoje também, mas os valores traduzem-se em euros na conta bancária...

Isto só leva a que todos queiram ter algo que não precisam para serem quem não são para impressionarem quem na realidade não gostam... mas quem sou eu para julgar... sou apenas alguém que tento viver segundo os valores que os meus pais me incutiram e entre esses está o ser sempre verdadeira a mim, em primeiro lugar, só comprar o que posso se realmente for necessário, em segundo lugar, guardar algum para alguma emergência, em terceiro lugar, e no final se sobrar qualquer coisa, então comprar um extra que realmente valha a pena e que esteja no orçamento, claro lol

Esta sociedade, como se pode ver nos jornais e nas notícias da televisão, está a empenhar-se cada dia mais, compra o que não precisa, com o dinheiro que não tem... Obviamente chega a um ponto que ficam com uma mão atrás e outra à frente... chegam a não comer apenas para ter os chamados "bens essenciais" que não passam por ter 50 canais extra de televisão num plasma que quase não cabe na sala...

Enfim, não se pode criticar a sociedade, quando o nosso governo faz exactamente o mesmo, daí o défice ser cada vez maior... e o que se faz para combater o défice, o que as famílias fazem quando não conseguem pargar um crédito, pedem outro....

Onde está o Portugal que tinha pessoas de valor, com boa vontade, e com vontade de trabalhar... Não tinhamos todos tudo, mas tinhamos felicidade e essa está a esgotar-se a olhos vistos e não há crédito que a possa comprar...

Vejo cada vez mais pessoas infelizes que trabalham para pagar as dívidas que nem reconhecem do que sejam... apenas para serem reconhecidas na sociedade, sociedade esta que faz questão de as tratar como lixo.

Porque na minha opinião se nos tentam mudar, é porque não gostam de nós, então de que vale mudar e deixar de sermos quem somos, de que vale abdicar da nossa vitalidade, daquilo que nos faz sorrir por algo que não nos vai valorizar...

Aprendam a ser felizes com os pequenos nadas, aprendam a gostar de vocês, por quem são e não porque os outros vão gostar mais de vocês... A felicidade está em todo lado e a custo zero, só têm que saber olhar...

Mas claro que isto é apenas a minha opinião... beijinhos...

P.S-> para quem não conheço deixo a letra e a música dos Taxi, Chiclete... ou para apenas relembrar... e fazer alguém sorrir...

Letra - Chiclete dos Taxi...
E como tudo o que é coisa que promete
A gente vê como uma chiclete
Que se prova, mastiga e deita fora, sem demora
Como esta música é produto acabado
Da sociedade de consumo imediato
Como tudo o que se promete nesta vida, chiclete

Chiclete, aua aua aua aua aua ah!
aua aua aua aua aua ah! (chiclete)

E nesta altura e com muita inquietação
Faço um reparo e quero abrir uma excepção
Um casse-tete nunca será não, chiclete

Pra que tudo continue sem parar
Fundamental levar a vida a dançar
Nesta vida que tanto promete, chiclete

Chiclete, aua aua aua aua aua ah!
aua aua aua aua aua ah! (chiclete)

E como tudo o que é coisa que promete
A gente vê como uma chiclete
Que se prova, mastiga e deita fora, sem demora
Como esta música é produto acabado
Da sociedade de consumo imediato
Como tudo o que se promete nesta vida, chiclete

Chiclete, aua aua aua aua aua ah!
aua aua aua aua aua ah! (chiclete)

Chiclete
chiclete (x4)

Chiclete (prova)
Chiclete (mastiga)
Chiclete (deita fora)
Chiclete (sem demora) (x...)

(...chi-chi-chi, chi-chi-chi, chiclete)

terça-feira, 24 de março de 2009

Refúgio…

Existe um sítio no qual me perco desde criança. Gosto de estar nele, de o observar de longe e mesmo de o recordar. Em todas essas alturas um sentimento de paz trespassa o meu espírito e deixa-o leve. Faz-me sentir viva e recarregar baterias, é um refúgio para mim…

Quando a lua está bem alta, iluminando tudo e espelhando-se nas águas desta baía, sinto-me como se estivesse lá em cima e pudesse ver a minha vida como se de um filme se tratasse. Adoro sentir o cheiro da maresia a invadir-me o corpo, deixar o som das ondas embalar a minha alma e sonhar, apenas estar. Não pensar em nada e pensar em tudo. Deixar que os pensamentos se embrulhem e espraiem como as ondas do mar quando vêm ao encontro da terra…

A praia para mim é um dos locais mais bonitos, a convergência dos elementos da natureza. Claro que poderiam dizer que apenas 3 dos quatro elementos convergem neste ponto, mas não é totalmente verdade. A água, a terra e o ar são obviamente identificados pelo mar, areia e brisa, respectivamente, algo que todos conseguimos observar. Quanto ao quinto elemento que se julga existir, mas que muitos não padecem dessa opinião, coexiste na calma e serenidade que este local nos transmite. Faltaria o fogo, mas está presente quando acendo um cigarro enquanto estou só, sentada na praia, bem junto à água, deixando-me envolver por aquele sequencial bater de ondas na areia…

Adoro simplesmente deixar-me à deriva num sítio que me sinto segura, deitar-me e olhar o céu que se estende numa imensidão, um tesouro pronto a ser resgatado… e com o olhar vou apanhando estrela a estrela, até não sobrar nenhuma…

Poder fechar os olhos e apenas sentir… sonhar… não ter hora para voltar desse sonho… deixar com que o vento brinque com os meus cabelos e me acaricie a face… deixar as lágrimas rolarem sem me preocupar se alguém poderá ver… sem me preocupar em usar a máscara e ser eu por uns instantes.

Eu, aquela que sente, que chora, que sai magoada e que só cura as feridas após longos tempos de recobro. Eu, a menina, envergonhada, tímida, que tem medos e angústias. Eu, que sonho e por vezes não quero viver porque sei que a realidade não é um conto de fadas e não acaba com “e foram felizes para sempre”. Aquela parte de mim que fica escondida, ou pelo menos tento esconder das pessoas que me rodeiam, que povoam o meu mundo.

É neste cantinho, neste pedaço de terra, que deixo de ser forte, de ter garra para enfrentar tudo e todos, que me lembro que não posso fazer tudo e que tenho que ter cuidados. É aqui que posso amar, mesmo que em silêncio, que posso deixar o meu coração voltar a bater. É aqui que venho sempre que preciso de ser eu, de chorar, de resolver problemas que me massacram a alma…

Ser espectador da nossa própria vida…

Durante anos pensei em mim sentada numa plateia de um teatro, luxuosamente decorado. Com cadeiras forradas a veludo vermelho, espaçosas…, os camarotes em entalhe de madeira dourada, e cheios de gente vestida com a sua roupa domingueira em estilo século XIII. Longos vestidos por cima de corpetes bem apertados, tudo no devido sítio em prol de uma beleza que hoje em dia nada tem a ver com o nosso conceito de beleza ou conforto.

Estava nessa plateia como hoje ando na rua, rodeada de um puro sentido de hipocrisia que banha a sociedade, que inunda os seres que compõem a sociedade a título de última fragrância, a mais cara e a mais sensual. Mas poucos se apercebem que em vez de a apreciarem, depressa ficam viciados nela e não vêm mais nada à sua frente, apenas a desejam e vivem segundo os seus desejos, segundo as suas regras.

Pois neste meu teatro eu vejo o decorrer da minha vida, porque nesta sociedade acabo por me sentir muitas vezes um espectador da minha própria essência. Existem factores que quero mudar no mundo, mas segundo a sociedade não posso porque não seria correcto.

Não é correcto uma menina, peço desculpa, senhora, estar no meio de homens até às quinhentas, no entanto todos sabemos que as grandes discussões de economia, política, religião e educação, entre outras, só se tornam interessantes e deveras verdadeiras quando os cavalheiros despem a capa diplomática e confiam nos seus confrades, isto é, quando as conversas são realizadas a altas horas da noite e com algum álcool à mistura.
Por norma uma mulher não é admitida para estas reuniões porque a sociedade, não o homem, sexo masculino, as considera inferiores. Não foi à muito tempo, que em plena aula de faculdade um professor disse que as mulheres deviam estar em casa a lavar pratos e a tratar dos filhos e não a tentar aprender alguma coisa, porque isso era a tarefa dos homens.

Nota de rodapé, o curso era frequentado maioritariamente por mulheres e é um curso de Matemática, o qual não é propriamente fácil, mas quem sou eu para dar a minha opinião, afinal sou apenas uma mulher…

Custa-me tentar mudar o mundo e ter que viver com o “tens que te vestir como a senhora que és”, das duas uma, ou sou uma imagem criada pela sociedade, caricaturada através dos tempos e sem personalidade própria, ou sou eu, e se a segunda prevalece, e tem prevalecido devido a um defeito iminente que persiste desde idades mais ternas, a teimosia, então não serei um boneco a comando da sociedade, mas usarei a sociedade em proveito dela própria, para a melhorar, para a tornar menos fútil, menos ignorante, menos hipócrita, menos sovina, menos estereotipada.

Precisamos de passar o véu das aparências, precisamos de saber o que as pessoas, as empresas, os sectores económicos realmente valem, mas pelo que valem, não apenas pelo que têm, de onde vêm ou pelo que aparentam ser.

Todos devemos ter uma hipótese de mostrar quem somos e não ficarmos espectadores da nossa vida apenas porque nascemos no sítio errado na hora errada ou com o sexo errado. As variáveis envolvidas neste jogo de poder são mais que muitas e não as podemos condicionar a todas, mas podemos apelar aos valores. Começar por pensar num mundo em que valores como a igualdade, a fraternidade, a comunhão, entre outros, é pensar num mundo melhor, é pensar numa sociedade que não vai formatar à nascença o nosso livre arbítrio e que nos vai deixar fazer parte da peça em vez de apenas nos deixar pagar o bilhete para a nossa vida…

quinta-feira, 12 de março de 2009

Yin e Yang

No inicio existiam dois e um copo, ou melhor uma jarra muito apertadinha, neste momento existem quatro, um aquário, pedras azuis, um ventilador e água de qualidade devido a um produto cinco estrelas comprado na loja. Qualquer dia parece um castelo lol
Os meus dois novos inquilinos são de origem chinesa e daí os nomes Yin e Yang,. Um deles prateado o outro dentro dos dourados e vermelhos, as suas caudas longas fazem o aquário parecer um novo mundo…
Devo confessar que houve uma aventura onde o Yang morreu e ressuscitou, um verdadeiro milagre… Uma pessoa que nunca teve um aquário vai a uma loja de animais e diz o tipo de aquário que tem, ou seja o tipo bolinha… Que pensa que os peixinhos estão a morrer de falta de ar e dão-lhe um filtro em vez de um ventilador… Ora eu coloco o filtro e não é que o meu aquário passa a ser um parque de diversões com direito a montanha russa!!! Pois é verdade. Os peixinhos, gostando da nova brincadeira entram no fluxo de água, que tem bastante pressão e o pobre do Yang não aguenta a pancada no outro lado do aquário, previsível. Aquilo esteve posto 2 minutos, mas a pancada deve ter sido forte, porque quando voltei a casa, passado quatro horas, o Yang estava surdo, eu bem o chamava, mas ele resolveu não dar sinais de me ouvir… No dia seguinte voltei à loja e contei o sucedido. Como desta vez a pessoa que me atendeu percebia do assunto, deu-me o aparelho correcto e ofereceu-me um novo Yang, sendo este ressuscitado no aquário cá de casa…
Acho que descobri um novo hobbie e estou a amar cada passo da construção.
E como um dos meus hobbies é a fotografia, não podia deixar de vos contemplar com os meus bebes, o Sunlight, o Moonlight, o Yin e o Yang…




sábado, 7 de março de 2009

Sunlight and Moonlight

Sempre pensei ter um animal de estimação. Pensei sempre num gatinho preto, mas depois que o meu soneca se foi, tive de pensar bem no assunto. Uma relação com um animal é algo mais do que tratar dele, dar-lhe de comer e dar-lhe os cuidados básicos. É aprender a amá-lo e deixar que ele faça o mesmo à sua maneira. Ele morreu no dia antes dos meus anos... o que não me deixou com grande ânimo.
Mas de repente lembrei-me... e se fossem peixes??? eles não têm o mesmo comportamento para com as pessoas como um cão ou um gato, mas fazem companhia e têm a vantagem e de ser calmante...
Então adoptei o Sunlight e o Moonlight dois cometas um amarelo e um vermelho. Agora já têm casa, ou seja um aquário... e são lindos...





segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Desabafos...

Perdida nos seus pensamentos, Lisa encontrava-se no jardim à beira rio plantado, construído para a Expo 98. Queria estar sozinha, ou melhor, não lhe apetecia estar com ninguém que conhecia, muito menos com os seus amigos que tão bem a conheciam. Deixava que a chuva lhe caísse pelo rosto, misturando-se com as lágrimas que lhe teimavam em cair dos olhos, por muito que as limpasse. A sua tristeza era muita e não sabia de onde poderia vir.

Era supostamente uma mulher que devia ser feliz. Com quase trinta anos, Lisa era bonita, com um curso tirado e a fazer o que mais amava na vida, ensinar. Tinha conseguido colocação dois anos seguidos e embora a escola onde estava não fosse um paraíso, acordava todas as manhãs desejosa de ensinar os “seus putos”. Tinha conseguido comprar uma casa e vivia sozinha, o que nos dias de hoje era um grande feito. Tinha verdadeiros amigos com quem podia contar, mas faltava algo… lá no fundo, ela sabia bem o que faltava mas não queria dar o braço a torcer, um dos seus piores defeitos era ser teimosa, mas fora essa teimosia que a tornara a mulher que era hoje.

Muita coisa se tinha passado na sua vida nos últimos dois meses, despesas extra com a casa e com o carro, mais tempo a trabalhar, outra relação que não tinha resultado, enfim todas aquelas coisas normais que acontecem na vida quotidiana, mas o que a deitou a baixo foi ter um dia acordado e não se conseguir mexer da cintura para baixo. Olhar em volta e ver que estava sozinha. Claro que podia chamar um familiar ou um amigo, mas naquele momento estava sozinha, sem ninguém do seu lado e isso fê-la admitir, ainda que contra a sua vontade, que sentia a falta de alguém.

O susto de não conseguir andar, de não sentir as pernas, de a sua doença estar a aumentar e não haver nada que pudesse fazer para acabar com aquelas paralisias sucessivas fez com que tomasse algumas decisões na sua vida. A primeira seria por o seu segundo curso em hold por um ano ou dois enquanto não estivesse melhor, a segunda seria descansar mais, viver mais.

Mas foi exactamente isso que a levou a este jardim, que a pôs a pensar. Não tinha ninguém do seu lado para partilhar os pequenos nadas, os silêncios, o colo no sofá ou os abraços durante a noite. A família e os amigos, embora sempre presentes, não podiam preencher esse espaço que cada vez ia ficando mais vazio.

Estas ideias iam ficando cada vez mais profundas na sua mente, pareciam ter vindo para ficar e ela precisava desesperadamente de ar fresco, mas não conseguia respirar. Olhando a outra banda, com a ponte 25 de Abril a emoldura-la, recordações iam passando como se estivesse a vislumbrar um filme, o filme da sua vida. Momentos onde existia alguém, onde partilhava coisas que não faria sentido partilhar com mais ninguém, mesmo que o outro não ouvisse…

Foi acordada desse sonho pelo toque do telemóvel, eram horas de ir trabalhar… Não se podia dar ao luxo de sonhar quando tinha contas para pagar. Lisa adorava viver em Lisboa. Uma cidade cheia de mistério, moderna e antiga, com betão e verdes, com história e a fazer história. Para ela não havia nada como poder sair de casa e encontrar o que quisesse, fosse um jardim, um café aberto, um cinema, uma loja, seja o que fosse e Lisboa tinha tudo.

Claro que ela tinha os seus lugares de eleição, mas quem os não tem. Mas o que gostava mesmo era de poder sair e estar completamente à vontade no meio de uma multidão. Lisboa era um mundo e ela gostava de fazer parte dele.

Adorava o transito, os museus, as exposições, os teatros, as galerias de arte, o metro, as ruas antigas, as vistas das colinas, os bolos saídos das fábricas às duas da manhã, o cheiro a terra dos jardins do campo grande, o jardim da escola politécnica no Rato, café que fizeram no quiosque do Príncipe Real, a Avenida da Liberdade com os seus restaurantes em pleno passeio, os edifícios antigos com imagens em alto-relevo, principalmente o edifício dos meninos em plena Avenida da República. A praça de touros do Campo Pequeno, o Alcântara café com todo o seu glamour , ou o Plateu onde a música ainda tem melodia… E quando é Natal, toda a cidade fica enfeitada de luz…. Um espectáculo digno de se ver…

Mas como é óbvio nem tudo é bom, e Lisa também via a outra parte, os mendigos que dormiam em caixas de cartão, a indiferença das pessoas que andam tal qual zombies de casa para o trabalho e do trabalho para casa. O que mais lhe custava era raramente ver um sorriso, uma palavra de agradecimento ou um simples “Bom dia”. Parecia que as boas maneiras tinham ido para outro planeta, mesmo nos sítios de comércio todos estão de mau humor e como que a fazer-nos um favor ao atender-nos. Por isso achava-se uma mulher de sorte por gostar do que fazia, gostar não, era muito mais do que isso… Amava o que fazia.

Depois da explicação iria para casa, mas não lhe apetecia ficar sozinha. Iria sentir falta do abraço, daquele abraço… Não poderia chegar e dizer hoje correram-me lágrimas e fui fraca, porque não havia ninguém com quem falar. Já se habituara a estar sozinha e gostava da privacidade, era-lhe muito útil para muitas coisas. Só limpava o que sujava, não tinha horas para comer ou para dormir. Fazia o que queria, quando queria e como queria. Mas de que lhe valia ter tudo… Era a pergunta que lhe saltava à mente nos últimos tempos e não parava de pensar nisso.

Houvera tempos em que pensou que um dia encontraria a pessoa ideal, o homem dos seus sonhos. Mas nos tempos que correm sabia bem que não existiam príncipes encantados e os seus relacionamentos tinham-lhe mostrado exactamente isso. Tinha muito jeito para escolher amigos, mas para escolher companheiro era um zero à esquerda, conseguia sempre escolher aquele que pior se podia adequar à sua personalidade. Claro que no inicio das relações se entregava e dava tudo por tudo, achando que ele seria o tal e depois quando descobria que não era, acabava a sofrer… Com o tempo tinha aprendido a sofrer menos, a ser mais fria, mais calculista na parte dos sentimentos. Chegaram mesmo a dizer-lhe que não se podia racionalizar os sentimentos, no entanto era a sua única arma de defesa para sofrer menos, racionalizar o que tinha acontecido, arrumar o caso e passar à frente. As feridas cicatrizavam mas claro que deixavam marcas, e cada vez eram maiores. Até que um dia, Lisa decidiu que não iria deixar mais ninguém entrar no seu mundo dessa forma.

Não queria tornar-se uma velha rancorosa, mas também estava farta de ser um boneco nas mãos de alguém e como diz o ditado “antes só que mal acompanhada”. Sentou-se no seu sofá com uma chávena de chá e pensou nos prós e contras. Seria viável deixar alguém entrar na sua vida? Será que não iam brincar mais uma vez com os seus sentimentos?

Sabia que se fechasse a porta, mesmo que aparecesse alguém, ela não iria dar por isso. Demasiado distraída nesse campo, quase que era necessário que o rapaz interessado se atravessasse à frente do seu carro e dissesse estou aqui para que ela o visse. Quantas vezes não foram os amigos que lhe disseram que estava a ser observada por alguém ou que alguém tinha um interesse especial por ela, quando ela achava que não passava de um comportamento normal, algo de amigo?

Mas não estava disposta a abrir a porta. Existia alguém que preenchia todos os requisitos, que a completava, que a fazia sentir segura, sensual, inteligente, desejada. Adorava estar nos seus braços, partilhar silêncios, brincar com ele como se fossem dois putos. Mas não podia acontecer… e não lhe apetecia abrir a porta do seu mundo para que a tratassem mal, quando ela sabia como a podiam tratar bem. Por outro lado, podia continuar a sonhar com este amor impossível, mas só se estaria a iludir e a vida não é feita de ilusões…

Pegou nas chaves do carro e saiu. Não conseguia mais estar parada, precisava de andar. Conduziu, não sabia para onde ia, mas o carro parecia conhecer o caminho. De olhos quase vidrados ia acelerando ou travando conforme o trânsito deixava, com ânsia de chegar não se sabe bem onde. Só queria fugir. Fugir de si, daquele dilema, queria que desaparecesse. Descobrir uma resposta algures seria bom, mas não a ia encontrar no meio do trânsito. Um lugar para estacionar. Carro parado, fones nos ouvidos, música a tocar. A música era parte integrante da sua vida, por onde quer que andasse, levava a música atrás. Saiu do carro. A chuva era agora mais intensa, depressa o seu cabelo ficou encharcado, mas não voltou atrás. Sentiu o frio, fazia sentir-se viva. Pensou em si, na sua vida, no que tinha sido e no que queria ser. Tinha que se definir, não podia continuar a ser um dilema, tinha que ser algo concreto e racional como o que ela própria ensinava. Caminhou por entre as árvores agarrando-se a estas para evitar cair devido ao chão estar demasiado escorregadio até que encontrou uma pedra. Sentou-se e observou a lua, cheia, grande, sozinha mas brilhante.

Pensou então “Se ela consegue viver sozinha e ainda mover marés, também eu hei-de conseguir. Não vou abrir as portas do meu mundo, mas também não irei construir mais muros em redor. Serei eu e apenas eu. Não irei à procura do que sinto falta, viverei de outras maneiras. Os meus amigos, a minha família irão dar-me o apoio que preciso, só necessito de o pedir mais vezes. Não pensarei no pior, e vou tentar viver mais o hoje.”

De olhos fechados, iluminada apenas pelo luar, a sua face mostrava um sorriso de vitória. Tinha vencido o dilema, só faltava viver a vida, aquela que uma doença teimava em roubar. As lágrimas que brilhavam, desta vez eram de alegria, porque ela se tinha apercebido que a solidão que sentia não existia, tinha sido criada por si. Agora que tinha voltado a estar completa e força que sempre tivera, não se sentia só, porque sabia com quem contar, sempre soube, mas preferira acreditar num sonho, viver numa ilusão, em vez de enfrentar a realidade…

Não o fazemos todos, pelo menos uma vez na vida?

domingo, 1 de fevereiro de 2009

The World by Henry Vaughan

1.

I SAW Eternity the other night
Like a great Ring of pure and endless light,
All calm, as it was bright,
And round beneath it, Time is hours, days, years
Driven by the spheres
Like a vast shadow mov'd, in which the world
And all her train were hurl'd;
The doting lover in his quaintest strain
Did there complain,
Near him, his lute, his fancy, and his flights,
Wit's sour delights,
With gloves, and knots the silly snares of pleasure
Yet his dear treasure
All scatter'd lay, while he his eyes did pour
Upon a flower.

2.

The darksome statesman hung with weights and woe
Like a thick midnight fog mov'd there so slow
He did nor stay, nor go;
Condemning thoughts (like sad eclipses) scowl
Upon his soul,
And clouds of crying witnesses without
Pursued him with one shout.
Yet digg'd the mole, and lest his ways be found
Work'd under ground,
Where he did clutch his prey, but one did see
That policy,
Churches and altars fed him, perjuries
Were gnats and flies,
It rain'd about him blood and tears, but he
Drank them as free.

3.

The fearful miser on a heap of rust
Sat pining all his life there, did scarce trust
His own hands with the dust,
But would not place one piece above, but lives
In fear of thieves.
Thousands there were as frantic as himself
And hugg'd each one his pelf,
The downright epicure plac'd heav'n in sense
And scorn'd pretnece
While others slipt into a wide excess
Said little less;
The weaker sort slight, trivial wares enslave
Who think them brave,
And poor, despised Truth sat counting by
Their victory.

4.

Yet some, who all this while did weep and sing,
And sing, and weep, soar'd up into the Ring,
But most would use no wing.
O fools (said I,) thus to prefer dark night
Before true light,
To live in grots, and caves, and hate the day
Because it shows the way,
The way which from the dead and dark abode
Leads up to God,
A way where you might tread the Sun, and be
More bright than he.
But as I did their madness so discuss
One whisper'd thus,
"This Ring the Bridegroom did for none provide
But for his bride."

Sec. XVII